Num abraço que nos torna um! - Testemunho de André Silva (Coordenador Nacional do VTS)
Abraço… gesto de
entrega e confiança em que num mesmo momento e espaço temporal dois corpos
partilham um mesmo instante. Nesse momento dois olhares com um destino
diferente mas braços que se envolvem e dois corações que acabam por bater a um
só ritmo.
Esta é a simbologia
que para mim define melhor o conceito de família, pois em família devemos
sentir-nos constantemente abraçados mesmo que nos encontremos em sítios
diferentes ou tenhamos diferentes opiniões e vocações. O abraço não julga nem
critica, apenas acolhe e permanece.
No passado
fim-de-semana de 22 e 23 de Outubro, realizou-se em Fátima o 1º Encontro de
Formadores organizado pela Pastoral Juvenil da Família Dominicana, no Convento
dos frades dominicanos, em Fátima.
Abraçaram este
projecto cerca de 10 jovens, membros das diversas comunidades do Voluntariado
Teresa de Saldanha e 8 noviços e 2 estudantes, dominicanos, os quais tomaram o
hábito no passado mês de Setembro.
Vocações distintas,
mas como na Ordem Dominicana, nenhuma melhor que a outra, ninguém melhor ou
pior que o outro, todos somos um entre iguais.
O objectivo era
aprofundar aquilo que chamamos de “espiritualidade dominicana” e para isso
fomos “beber” à fonte fundamental, o nosso pai e fundador S. Domingos de
Gusmão. Entre dinâmicas e ritmos próprios deste tipo de encontros, encontrámos
ainda tempo para uma visita às mongas dominicanas, onde mais uma vez
compreendemos outro tipo de vocação, a qual não sendo um abraço físico é um
abraço espiritual pois é a oração permanente destas irmãs que muitas vezes nos
dá o suporte invisível que sentimos operar nas nossas vidas, mesmo que nem
sempre sejamos honestos para o receber e acolher ou estejamos atentos e
despertos para esse facto.
Há na alegria
estampada no rosto desta irmãs indubitavelmente aquilo que gosto de chamar de “Amor
maior”, o amor de “querer bem” a todos e a cada um de nós.
Houve duas ideias que
partilhei na avaliação que fizemos no final desta etapa de formação e que
gostava de aprofundar:
1) Humilde instrumento de Cristo!
Domingos,
tal como a nossa inspiradora Madre Teresa de Saldanha, souberam reconhecer com
humildade a miséria e a pobreza daqueles que os rodeavam, e com essa mesma
humildade deram tudo aquilo que tinham e não tinham, para que Deus os usasse
como instrumento do Seu amor e assim se elevassem as vidas de todos aqueles
pobres cujas almas ansiavam pelo amor de Deus. Tal como disse o Frei Filipe
numa das suas homilias, “por mais baixa que seja a miséria do Homem, a
misericórdia de Deus, no seu amor incondicional, poderá sempre nos elevar”.
Domingos,
e Teresa, deixaram-se inundar pelo amor de Deus e assim, agiram sempre como
instrumento do mesmo, vivendo de forma humilde, atenta, inteligente e
compassiva.
2) Página viva do Evangelho!
Tal
como o Frei Filipe eloquentemente nos relatou, a imagem do rosto de S. Domingos
criada por Matisse é a de um rosto sem olhos, nem boca, nem nariz, nada…
contudo, e instintivamente, compreendemos que mesmo assim é um rosto sem rosto
que nos é familiar pois somos nós que somos chamados a ser esse rosto de S.
Domingos que representa a Ordem Dominicana.
Devemos
de forma humilde tentar ser os olhos deste rosto para que assim possamos ver a
infinita misericórdia de Deus e vendo a pobreza daqueles que nos rodeiam,
possamos entregar o que temos e desprendermo-nos das amarras que nos prendem a
uma vida materialista e vã, pois só no amor ao outro encontraremos o amor de
Deus.
Devemos
tentar ser os ouvidos deste rosto para que assim possamos ouvir os lamentos
daqueles que são marginalizados e daqueles que sofrem e possamos no ruído do
mundo que hoje nos rodeia, encontrar sempre a melodia do amor de Deus.
Devemos
ser também a boca deste rosto para que aos quatro cantos do mundo chegue bem
alto a certeza de que Deus sempre nos amou e amará de forma incondicional e
assim um sopro se tornará murmúrio, um murmúrio se tornará um coro, um coro se
tornará um grito e este grito derrubará os muros que afastam o Homem de Deus e
tornar-se-á a ponte e o abraço que nos une no amor de Deus.
Mas
não nos devemos ficar pelo rosto, devemos também ser testemunho vivo para que
as palavras virem obra e as obras possam dar fruto. Uma fé sem obras é uma fé
vazia.
Domingos,
e também Teresa, deixaram-se tocar pelo amor de Deus e foram sempre páginas
vivas do Evangelho de Cristo. Nas suas vidas encontramos amplos exemplos deste
facto e isso transparece de forma clara na “espiritualidade Dominicana”.

Espero
com a toda a minha alma que o VTS, e todos os seus membros, familiares e
amigos, possam ser sempre um Evangelho vivo do amor de Deus e que todos se
sintam sempre juntos naquele abraço que, simplesmente nos faz SER FAMÍLIA.
André
Silva – Lisboa 26/10/2016