O mês das conchas
Parti para Timor com a certeza de que partia para Ti(, a)mor, com a certeza de que Deus era realmente este (a)mar maior que me impelia a ir mais longe, que me desafiava a simplesmente confiar e deixar-me levar, flutuar nas suas águas, só eu e Ele, naquele sentimento de leveza e pertença, só Ele e eu. Não poder controlar o que me esperava, o que ia fazer, o que me seria pedido era um quanto ou tudo assustador mas sabia-O comigo, sabia que Ele sempre me sorriria, sabia que Ele sempre me daria a mão, sabia que neste amor poderia entregar tudo aquilo que sou.
E, de facto, encontrei-me. Talvez por ter tempo para caminhar descontraidamente pelo areal, sem pressas e mil e uma preocupações que me fazem desdobrar em mil e uma Anas Emanuel. Caminhar descontraidamente, com aquele olhar atento de criança que quer juntar no seu balde todas as conchas maravilhosas que o mar deixa à superfície para serem contempladas. Estas conchas que habitam as suas profundezas, a sua infinitude e nos revelam a sublime beleza que Ele é. Às vezes, o desafio maior é não querer encontrar aquela concha extraordinária, que nunca aparece e nos faz voltar para casa desanimados de balde vazio, mas encontrar o fascínio pela brancura de mais uma simples concha branca ou encontrar a peculiaridade da forma de mais uma simples pedra. Olhar tudo com gratidão, olhar tudo como dom e voltarmos para casa radiantes, ricos, confortados, de balde cheio. Sobretudo, não perdermos nunca o querer agarrar aquela concha, guardá-la zelosamente e expô-la em nossa casa, para que todos a possam admirar.
E, de facto, encontrei-me. Talvez por ter tempo para caminhar descontraidamente pelo areal, sem pressas e mil e uma preocupações que me fazem desdobrar em mil e uma Anas Emanuel. Caminhar descontraidamente, com aquele olhar atento de criança que quer juntar no seu balde todas as conchas maravilhosas que o mar deixa à superfície para serem contempladas. Estas conchas que habitam as suas profundezas, a sua infinitude e nos revelam a sublime beleza que Ele é. Às vezes, o desafio maior é não querer encontrar aquela concha extraordinária, que nunca aparece e nos faz voltar para casa desanimados de balde vazio, mas encontrar o fascínio pela brancura de mais uma simples concha branca ou encontrar a peculiaridade da forma de mais uma simples pedra. Olhar tudo com gratidão, olhar tudo como dom e voltarmos para casa radiantes, ricos, confortados, de balde cheio. Sobretudo, não perdermos nunca o querer agarrar aquela concha, guardá-la zelosamente e expô-la em nossa casa, para que todos a possam admirar.
Em Timor, cada atividade preparada, cada brincadeira partilhada, cada carinho trocado, cada pessoa com quem me cruzei foram conchas que tentei agarrar, mesmo cansada, desanimada ou com saudades de tantas caras queridas, que procurei guardar na memória e no coração zelosamente e que procurarei expor, para que todos possam admirar, no testemunho que posso deixar, nas convicções que saíram reforçadas, no meu modo de estar no mundo. A cada baque do coração quando confrontada com tais mistérios, uma lufada de ar fresco que revitaliza.
Por isso, agora que esta missão em Timor terminou, as palavras que me dirigiram num postal, aquando da minha partida, ganham todo o sentido:
Querida Ana Emanuel, que partas com o coração aberto as surpresas de um Deus que te ama.
Sim, regresso com um coração aberto mas sobretudo aumentado por estas surpresas. Sim, regresso com mais sinais deste amor, sobretudo mais atenta, para que possa continuar a caminhar com ele como meta, para que possa aprender a amar cada vez mais. Sim, regresso totalmente apaixonada e espero continuar a viver Nele um amor que a cada dia amadureça, que perante as adversidades, obstáculos, silêncios, tudo possa desculpar, crer, esperar, suportar e jamais, jamais passar.
Sim, regresso realmente com a alegria da música ter sido a escolha certa. Sim, regresso mais do que motivada a servir, sempre, através desta arte que é capaz de surpreender tantos talentos escondidos, desvendando-lhes esses mesmos talentos que não sabiam ter. Que lhes dá objetivos a cumprir, individualmente e em conjunto, para resultar em momentos de festa a cantar, tocar, improvisar, criar, celebrar! Que consegue tocar corações reprimidos e une tantos em volta de um só propósito. Sim, regresso com muitas missões musicais às quais me dedicar, que requererão de mim igual sentido de serviço, entrega e amor. Timor será sempre um local pleno de mística onde quererei voltar a redobrar fulgor. Aqui, a música foi verdadeiramente em pleno. A ti, música, toda a gratidão!
Que partas feliz, serena e em paz com a confiança de que fazer o Bem sempre é fonte de vida abundante.
Sim, regresso plenamente feliz, serena e em paz. Fazer o Bem sempre é tornar presente Deus no dia-a-dia, Ele que é o maior bem. Afinal, "Deus não está atravessado no caminho, mas os nossos próximos estão e quando eu der um passo de amor na sua direção, Deus estará presente nesse amor entre nós". Ser VTS é isto, tornar este lema da nossa querida Teresa de Saldanha vivo e atual. Ser VTS é ousar seguir o seu exemplo de firmeza a um projeto de vida e confiança de que, com Ele, nada é impossível. Porque o contrário de eu não é o tu, mas sim o nós, dizia um sacerdote, certo dia, a um jovem Papa Francisco... E os sonhos do nós, esses sim, mudam o mundo. Os sonhos do nós, esses sim, são fonte de vida abundante.
Em Timor, pedi um abraço a um menino e foi preciso explicar tudo passo a passo. Literalmente. "Aproximas-te, metes os teus braços à minha volta, apertas". Aproximámo-nos, metemos os nossos braços à volta um do outro, apertámos... Abraçámo-nos o tempo certo para sorrirmos ternamente de seguida, ele se despedir de mim com um "I love you", eu lhe acenar com um olhar maternal, enquanto o via afastar-se estrada fora... Sim, a Ana Emanuel, como todos os que a conhecem sabem mais que bem, é aquela que defende que os abraços sinceros dão bem mais luz à nossa vida. Aqui, mais do que nunca, dei abraços a torto e a direito. Espero realmente ter sido abraço, ter sido aquele búzio que, em criança, colocava no ouvido para poder ouvir o mar, perplexa, na minha ingenuidade, com o facto de um pequeno búzio poder guardar em si o som dessa imensidão. Que o que lhes proporcionei, o que lhes dei possa ser mais uma pista na descoberta da grandeza daquilo que são. Que, tal como eu, quando cresci, descubram que, afinal, o pequeno búzio não tem o mar, só ajuda a ouvir o mar que vive cá dentro de nós: Deus que nos ama, Deus que é o (a)mar maior.
Temos em nós um pedacinho de Deus, temos rumos certos no coração. Despertemos o sonho, temos em nós os céus, libertemos a vida da palma da mão. Façamos desses rumos os caminhos nossos (porque) de Jesus recebemos... esta missão.
Ana Emanuel Nunes