Conclusões - Peregrinos com(o) São Domingos


Quando se pensa em peregrinos, pensamos logo nas pessoas que de mochilas as costas e calçado confortável se metem à estrada rumo a um local de culto. Percebemos que não vão à sorte, mas trilham caminhos já abertos e palmilhados sem que por isso deixem de ser experiências totalmente novas e pessoais. Para além disso, o caminho é sempre em grupo até para quem decide começá-lo sozinho uma vez que inevitavelmente o caminho é feito de rostos que nos sorriem e nos encorajam unidos nesta meta comum. Afinal, a vida cristã consiste nisto mesmo: seguirmos uns com os outros.
Para nós, dominicanos, São Domingos é o ícone perfeito de um modo de viver ao jeito de Jesus. Quando estava para falecer, São Domingos disse(-nos) que no Céu saberia poder vir a ser mais útil como intercessor. É a ele que podemos realmente recorrer para que inspire os nossos caminhos, ele que, enraizado profundamente no Evangelho, viveu a partir dele e nele, contemplando e dando ao outro o contemplado. 
São Domingos tinha uma vida estável como cónego na Catedral de Osma quando, certo dia, partiu com o seu Bispo rumo à a Dinamarca para combinar o casamento do príncipe de Castela com uma princesa dinamarquesa. Essa viagem acabaria por mudar a sua vida para sempre, desinstalando-o. Deparou-se com um profundo desconhecimento ou distorção da doutrina cristã por parte dos povos do Norte da Europa, especialmente do Sul de França. Foi aí que sentiu que Deus o chamava a uma missão diferente: a de peregrinar com estes seus irmãos na busca e no saborear da Verdade, neste caminho para um Pai de misericórdia revelado pelo Seu filho, Jesus Cristo. Primeiramente com as irmãs monjas, que o apoiavam através da oração, e posteriormente com frades que se foram juntando neste propósito, assumiu um modo de vida itinerante, enviando-os dois a dois como Jesus havia feito com os Apóstolos, proclamando a Boa Nova.
A Parábola do Filho Pródigo ou do Pai Misericordioso é considerado o coração do Evangelho, contado por Jesus no meio de publicanos e pecadores. Diz-se que São Domingos sabia os Evangelhos de cor e esta parábola, de certeza, não seria exceção, esta parábola diferente de tudo o que parece podermos viver humanamente: um Pai que depois do Seu filho lhe pedir a parte da sua herança, rejeitando-O, aguarda pacientemente o seu regresso e que mal o vê ao longe, a querer efetivamente regressar, corre a abraçá-lo e a fazer festa. Esta misericórdia do Pai era a que São Domingos, na sua santidade, usava para com os pecadores, chorando por eles com compaixão e dedicando-lhes a sua vida. 
O Pai é o nosso caminho e a nossa meta. Este é o sentido último desta peregrinação que é a vida. Descobrirmo-nos filhos amados e ansiar chegar a este coração misericordioso que nos cuida, com a liberdade e o tempo que precisamos, na nossa fragilidade. Como dominicanos, como pregadores, resta-nos pôr a caminho com(o) São Domingos, respondendo com alegria à nossa vocação de anunciar a verdade do amor, abraçando a cruz, testemunhando-a a cada passo, iluminando este mundo com a Luz do Evangelho.

(Reflexão de Irmã Arta, sintetizada e redigida por Ana Emanuel)






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