Maria e Teresa


Ontem, dia 15 de agosto, a Igreja reunida alegrou-se e celebrou a Assunção de Nossa Senhora aos céus. Desde 1950, graças ao papa Pio XII que proclamou a Constituição Apostólica Munificentissimus Deus “A Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre foi assunta em corpo e alma à glória celestial.” 

É nesta carinhosa partilha que mais uma vez somos convidados a olhar para a mãe do nosso Salvador e nossa mãe Maria. Olhar para Maria e refletir no que foi a sua vida leva-nos a compreender tudo aquilo de que necessitamos para sermos verdadeiros filhos de Deus. Vejamos então quem era Maria. Ela era uma rapariga simples, humilde e temente a Deus. Não era rica, não sabia falar diversas línguas e imagino que não perderia muito tempo a pensar que roupa ou acessórios usaria no seu dia a dia. Em oposição Maria, a meu ver, “perderia” tempo com o Senhor, orando e sendo um testemunho vivo da Sua misericórdia. Assim, Deus, nosso Pai, que muito nos ama e que não desiste da humanidade apesar dos nossos erros, faltas, maldades, falta de fé,  quis, ainda assim, salvar a todos. Para isso quis dar-nos o Seu filho amado para que através Dele a salvação das almas fosse, por fim, possível. Para este projeto de amor Deus precisava de uma mulher que se dispusesse a dizer sim ao seu projeto. Acredito que Deus nos conhece no nosso íntimo muito melhor do que nós e, assim, encontrou em Maria a mulher ideal. Maria a menina humilde, pura e temente a Si. Questiono-me muitas vezes como teria sido para Maria quando recebeu este desafio de ser mãe de Jesus. Será que teve a real noção do que lhe estava a ser pedido? será que teve medo? será que pensou em dizer que não? e de onde lhe veio a força e a certeza da confiança em Deus? Eu não saberia como reagir, nem o que dizer, mas Maria colocou-se completamente disponível para Deus. E ainda bem que assim o fez, ela deu-nos o melhor presente de todos. Deus coloca-nos desafios na nossa vida e sabe que os podemos aguentar, mas Maria teve um enorme desafio arriscou muito, a sua vida. Se recuarmos àquele tempo rapidamente nos apercebemos do que acontecia a uma mulher que estando noiva de um homem ou não, se aparecesse grávida sem casar seria condenada à morte. Nem assim Maria recuou. O seu sim foi verdadeiro e sem medo. Deus estava com ela, por isso nada de mal lhe poderia acontecer. E neste ponto não poderia jamais esquecer que Deus também escolheu José para este papel importante, mas hoje quero apenas focar-me na mãe. 

Maria desde o seu sim, ou mesmo antes, nos ensinou e continua a ensinar a sermos grandes aos olhos de Deus e pequenos aos olhos dos homens. Vejamos, hoje no Evangelho recordamos a passagem em que Maria sai de sua casa para servir a sua prima Isabel que se encontrava grávida de João Baptista. Não poderia ela ter-se enchido de orgulho ou temor por trazer no seu ventre o Salvador e ficar em casa até ao nascimento? Podia mas Maria sabia bem ao que Deus a chamava. Ela sim é um bom exemplo de serviço, sem temor. Outra característica que Maria nos ensinou é a humildade. Ela que nunca quis apontar para si mesma o louvor e a glória, bem pelo contrário, Maria indica-nos sempre Deus e Jesus. É através dela que podemos chegar a Deus, ela ensina-nos como devemos de proceder. Deus aprecia a simplicidade, a humildade e a pureza de coração e Maria a nossa mãe é um exemplo perfeito disso mesmo. Ela é a mulher e a mãe mais perfeita e é ela quem nos socorre sempre, é ela quem nos auxilia na nossa peregrinação terrena em direção ao Pai. É Maria que nos diz para fazermos tudo quanto o Seu Filho nos dizer.

Muitas são as mulheres que seguem o seu exemplo, hoje lembrei-me muito de uma em especial Teresa de Saldanha. À sua medida e na sua altura também soube imitar a sua mãe. A sua entrega aos pobres, aos mais desfavorecidos, a renúncia ao que era belo, aos bailes, aos belos pretendentes e aos bons casamentos, Teresa soube desde muito cedo quem queria como esposo, Jesus. Haverá esposo mais belo, mais perfeito que Jesus? Eu acredito que não. No seu íntimo Teresa entregou-se a Ele e rejeitou todos quantos lhe queriam fazer a corte. Corajosa para o seu tempo. O facto de pertencer a uma família rica e muito importante de Lisboa não a fez perder a sua rota que foi “Fazer o bem sempre e onde fosse possível”. Acredito que Teresa de Saldanha teve na Virgem Maria uma mentora determinante, muito deviam conversar as duas. Acredito que a escolha pela Ordem Dominicana não foi apenas uma escolha mas sim um marco. Aliado à sua devoção a São Domingos, lembremo-nos de que foi a São Domingos que Nossa Senhora apareceu e lhe entregou o Rosário e a “obrigatoriedade” de o rezar.




A vida de Teresa foi dotada de muita misericórdia, caridade, renúncia a si mesma em prol dos outros. Tudo o que tinha doava a quem precisasse. Muitos foram os que reconheceram os seus atos (D. Manuel Cerejeira, em 1939 reconheceu:” Madre Teresa de Saldanha é a glória da Ordem Dominicana, em Portugal”; o próprio Papa Francisco reconheceu as suas virtudes e eu tenho o sonho de ainda nesta vida ser testemunha da sua proclamação como santa) mas Teresa de Saldanha nunca fez o bem à espera de ser reconhecida por tal pois o seu amado Jesus e o seu Pai Deus já o tinham reconhecido. E para Teresa isso era o bastante. Já diziam alguns ditados: Faz o bem sem olhar a quem ou que não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita (acho que é algo assim). Deus está sempre atento e reconhece tudo quanto fazemos, por isso porque insistimos em querer ser reconhecidos neste mundo. Mais uma falha humana. A recompensa teremos quando chegarmos ao céu e estivermos frente a frente com Aquele que nos criou. 

Teresa de Saldanha referia que em nada nos poderíamos igualar à Virgem Santíssima, mas podíamos imitá-la na sua vida e nas suas virtudes. Eu não poderia estar mais de acordo.

Assim, hoje, quero dar graças a Deus por ter escolhido Maria como mãe de Jesus e nossa mãe, pelo sim de Maria e por Teresa de Saldanha que foi e é um exemplo de que ainda é possível viver na confiança em Deus e colocar Nele todo o sentido da nossa vida. 



“Não há alegria maior do que ser toda de Deus” (Teresa de Saldanha)


Ângela Silva

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