A História da minha vida e a vida da minha história

Sou Diana Carvalho, primogénita de entre os cinco irmãos. Os meus pais se chamam António Quaresma Carvalho e Maria Livramento Dias dos Santos. Nasci ao quinto dia do nono mês do ano da graça de 1997, em São Tomé e Príncipe, na antiga roça Água-Izé.

Os meus pais vivem numa roça que se chama Bernardo Farro, contudo, tinham uma residência na capital do país, é um quintal de família na qual cada membro da família tem a sua casa.

Os anos lá se passavam, eu e os irmãos tínhamos de entrar para a escola. Na roça Bernardo Faro (uma comunidade fora da capital), onde vivíamos, não tinha escola nem energia. Por isso, eu e os meus irmãos fomos obrigados a mudar para a capital para podermos estudar. E nisso, havia um pormenor, ficaríamos distante dos nossos pais. Pois, por mais que quisessem eles não podiam mudar para cidade. A vida da roça era de onde saia tudo para o nosso sustento.

E quando mudei para cidade com os outros quatro irmãos, começa então, a minha história de ser a “menina adulta”. Sendo a mais velha sentia que precisava ajudar os pais, sim, ajudar e muito. Tive de cuidar dos meus irmãos mais novos. Na altura tinha 10 anos e já com uma responsabilidade enorme. Das várias responsabilidades, devia cuidar das roupas dos irmãos, cozinhar, dar-lhes banho, levá-los à escola, sem esquecer que também tinha de estudar.

O encontro com os pais só era possível de 15 em 15 dias … E quando calhasse estar com eles era uma felicidade desmedida, claro, duas vezes. Via nos olhares inocentes dos meus irmãos os melhores sorrisos, sentia dos meus pais o calor de amor mais aconchegante… e para mim era também um alívio, um balsámo, pois podia descansar das grandes responsabilidades que tinha nos dias em que estamos só entre irmãos na cidade. E a história da “menina adulta” perdurou até aos meus 20 anos, altura que devia vir estudar para Portugal

Na verdade, nunca pensei estudar fora do país, nem estar longe dos meus pais. Tinha sempre uma pergunta que tanto me incomodava: quem havia de cuidar dos meus irmãos? Como ficaria os meus pais? Enfim, foram dias, noites e noites de dúvidas e interrogações até que um dia...

Quando soube da proposta e vagas para vir estudar em Portugal (IPG) e, sobretudo, que todos os meus amigos, principalmente a minha prima, se inscreveram nessas vagas fiquei ainda mais aflita. Aliás, a pergunta da minha prima na altura “Diana não vais inscrever-te nas vagas?” foi tão suficiente para dizer não a tudo e porque não podia sair de São Tomé abandonar tudo, abandonar os meus pais e os meus irmãos, deixando-os órfão de mim. Além disso, os meus irmãos não tinham com quem ficar.

Foi tanta a persistência da minha prima que acabei por ponderar a hipótese de vir estudar em Portugal. E pensando bem percebi que saindo para vir cá estudar estaria a me preparar melhor para ajudar os meus no futuro. Foi impressionante a forma tão afirmativa com que os meus pais responderam-me quando disse que viria estudar para Portugal… Foi o primeiro sinal de que Deus estava sempre presente na história desta “menina adulta”. E a título de exemplo, recebi o sacramento de confirmação, Crisma, antes de vir para Portugal. Como cristã queria dar continuidade do que fazia em São Tomé e Príncipe.

Chegando a Guarda em outubro de 2017,vi-me perdida; eu e as minhas primas experienciamos uma fase da vida menos boa, difícil, chegamos a Guarda e não tínhamos uma casa onde ficarmos. Restou-me acreditar que Deus nunca me abandonaria. O que para minha felicidade e surpresa apareceu alguém que levou-nos até à Casa Sagrada Família, onde fomos bem acolhidas pelas irmãs. Naquele momento tive a certeza de que o amor de Deus não é uma utopia ou uma realidade só para os outros. Não! Eu experimentei o amor de Deus no gesto de amor das irmãs que nos receberam de braços abertos, com muito carinho e conforto.

Depois que fomos apresentadas ao grupo VTS, que nos receberam com uma alegria enorme, ficou marcado na minha história aquele dia que nunca mais me esqueço… senti-me em casa, familiarizada e alegre por fazer parte de um grupo de voluntário de Teresa de Saldanha “fazer o bem sempre». Ser VTS para mim é fazer o bem sempre e ser eu mesma o bem a ser dado aos outros. É acreditar, ter fé e viver de uma forma humilde, ser alegre, simples e viver na oração, viver em família e ajudar a quem mais precisa.

O meu objetivo, tirar a licenciatura, ainda não foi concluído por causas de situações que menos esperamos mas que nos ocorrem. Porém, tenho fé que um dia irei terminar a minha licenciatura; A fé que não consiste tão-somente em acreditar em certas coisas, mas sim Naquele que tudo pode: DEUS.

Portanto, acreditar em DEUS não é para mim uma obrigação, um dever de casa, mas sim uma “sorte”, uma dádiva, um ato de amor, de intimidade, de confiança e certeza de que sou filha muito amada de Deus. E por ser filha amada de Deus, sou também irmã e amiga dos filhos e filhas amados e amadas por Deus como eu. Porque sem amigos, tudo é triste. E sem Deus, fica tudo ainda mais triste.

Diana Dos Santos Carvalho

Comentários

Unknown disse…
Poxa, Diana, só não chorei porque não sei qual foi a última vez que fiz isso, só sei que foi muito intenso.
Mas só posso dizer te uma coisa: Por mais escura que seja uma noite a estrela sempre encontrará um jeito para brilhar.
O que eu quero dizer é o seguinte, não importa as dificuldades e os problemas na sua vida, Deus proverá sempre uma solução.
É só acreditarmos!