"Hola mi niña, como estas? Hace dos anos de la JMJ"
Foi esta a mensagem que recebi ontem da minha mãe panamense Ida. Foi um baque forte. Que o tempo passa a correr, isso cada vez mais eu já sei; mas, sem dúvida, estes marcos, estas recordações de momentos tão fortes e significativos só nos fazem ganhar maior consciência disso.
Hoje, fazer memória das JMJ Panamá 2019 é fazer memória da multidão aos molhos a perder de vista a cantar em uníssono reunida em torno daquele pedaço de Pão, é fazer memória dos abraços, beijos e mãos entrelaçadas até com desconhecidos porque o coração está feliz, é fazer memória da beleza dos rostos sorridentes em liberdade. Hoje, é lembrar que há um ano tinha passado um ano e que estava nesse momento num concerto de professores a tocar para os meus alunos, e que, para tal, tinha deixado as minhas amigas penduradas num concerto dos Keane que tanto queria ter visto e que julgava ir a tempo de compensar com mil momentos juntas depois. Inevitavelmente, a saudade é maior de tudo quanto esta pandemia entretanto nos parece querer tirar.
Para muitos, 2020 foi um ano para esquecer, apagar do calendário, "2021 é que vai ser!". Para mim, 2020 não pode ser para esquecer porque, até no meio da desgraça, Jesus vive através de cada um. Nesse ano, vi jovens comprometidos a dizer "sim" a Deus de forma audaz e criativa no encontro ao outro, a dar seguimento a uma experiência de fé vivida em profundidade e em comunidade, onde ouvimos com as letras todas sermos o A-G-O-R-A de Deus. E não podemos ser ingénuos como muitos acabaram por ser no dia 31, aguardando as 12 badaladas como quem aguarda uma viagem de regresso a um tempo que jamais existe. 2021, mesmo no cansaço das medidas de contenção que nunca mais cedem, no sofrimento da perda, no desespero dos que estão na linha da frente a dar o tudo mais que tudo, vai ser: vai ser um ano de continuar a aprender a dizer "eis-me aqui", aceitando o que não entendo, acolhendo o risco de viver pelo amor que tudo pode desarrumar, olhando com gratidão e esperança em busca do(s) milagre(s).
Quando penso no Panamá, é também para esta imagem de contemplação da mística da sua Ponte das Américas que vou: esta ponte que une o Norte e o Sul e que que cruza aquele canal onde o Atlântico e o Pacífico se fundem. Viver o sim da Mãe Maria ali foi redescobri-la como ponte entre o humano e o divino, entre o que somos e o que podemos esperar vir a ser pelo Amor. Por isso, não posso simplesmente ficar a ver o tempo passar cada vez mais a correr, quero poder ficar tranquila sentindo que o gozei com esta juventude que brota do estar com Deus e em Deus. Quero, com Teresa de Saldanha, na humildade do que sou, na verdade do "fazer o bem sempre", ser sinal de pontes, ser sinal de luz.
"For there is always light,
if only we're brave enough to see it,
if only we're brave enough to be it." *
Amanda Gorman, The Hill We Climb
* Porque há sempre luz,
Se formos suficientemente corajosos para vê-la,
Se formos suficientemente corajosos para sê-la.
Se formos suficientemente corajosos para vê-la,
Se formos suficientemente corajosos para sê-la.
Ana Emanuel Nunes
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