Contemplar com Fra Angélico... no 1º Domingo da Quaresma

Tentações no deserto

Fra Angelico. Tentazioni nel deserto (cella 32a). 1446-1447. Fresco. 172 x 146 cm. Museu de São Marcos, Florença.



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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 1, 12-15)
Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».

No meio da aridez, como enfrentas as tentações?



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contextualização

Já há muito tempo que o nome Fra Angélico (1395-1455), pintor italiano renascentista de renome, beato pregador da família dominicana da qual faço parte, me é familiar. Inclusive, estive já junto da sua lápide na Basílica Santa Maria Sopra Minerva, onde pude rezar também junto de Santa Catarina de Sena. Contudo, pouco conheço da sua obra, apesar de já ter sido confrontada com duas pinturas que não me deixaram nada indiferentes. 

Foi por isso que antes de ontem, dia 18 de fevereiro, no seu dia litúrgico, ao receber um email da nossa querida madre geral a assinalar a sua celebração, descobrindo-o como padroeiro universal dos artistas, senti que devia aceitar essa oportunidade como graça: já que a Quaresma acabou de começar, porque não me deixar acompanhar pelas suas obras? 

Confesso-vos: sou professora de música mas a minha cultura na área da pintura é básica. Conheço os grandes nomes da História da Pintura e as suas obras incontornáveis, só. Não sinto aquele apelo a entrar em museus e a explorá-los: sei que, para além de quando estou em modo turista preferir aproveitar o pouco tempo disponível no exterior, a passear, tal atitude muito se deve à incapacidade que sinto de entender. De saber interpretar o artista, o que ele quer transmitir; de saber apreciar, o que distingue a obra, o que ela tem de particular e mais fascinante. 

E sabem, entro num contrassenso: porque, como professora de música, quero que todos tenham a oportunidade de a ouvir, mesmo sem perceber a parte técnica que a compõe: ouvir para se permitir sentir algo, algo que é tão subjetivo e pessoal que não pode haver certos nem errados. Por isso, achei que nesta Quaresma também poderia ir à procura disso: de me permitir sentir algo mais através das pinturas de Fra Angélico, de procurar novos olhares para este tempo litúrgico tão rico e para as passagens evangélicas que nos são propostas para melhor o poder viver.

A Fra Angelico, atribui-se a frase "quem quer que seja que faz as coisas de Cristo, deve ser de Cristo". Na sua pintura, deixou a marca da sua contemplação daquilo que Cristo pregou; através da sua pintura, foi pregador da sua vida em Cristo. 

Atrevam-se a apurar a vossa sensabilidade, a contemplar a pintura, o relato e aquilo que são à Sua Luz. 10 minutos de leitura atenta, de um olhar ao pormenor para aprender a escutar. Possa esta minha partilha a cada domingo ser-vos útil neste caminho até à Ressurreição. 

Ana Emanuel Nunes


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