O "empurrãozinho" de São José - 19 de março de 1866

Num período póstumo às expulsões das Ordens Religiosas de 1834, Teresa de Saldanha ousa sonhar em restaurar a vida religiosa em Portugal, numa audácia que vem de Deus. Neste dia, há 155 anos, há um sim especialmente importante que faz o projeto da fundação da congregação avançar! 


Marquesa de Rio Maior, no livro Fundação da Ordem das Terceiras de São Domingos em Portugal, 1869, 92, 94:

"A Teresa continuava a sua correspondência para Sena, e já era ponto decidido que estavam prontas a receber as pessoas que daqui andássemos, e depois de instruídas, experimentadas e professas, voltarem para aqui fundar a Ordem Terceira de São Domingos. Entenderam-se com o Geral e este negócio estava arranjado. (...) Antes de mais nada era necessário saber se o Sr. Patriarca, D. Manuel Bento consentiria na organização de uma nova Ordem, que lhe seria sujeita como ao seu prelado diocesano. De Sena desejavam muito ter a certeza da aprovação de Sua Eminência, assim como o Dr. Russell. Discutimos quem havia de ir com esta proposta a São Vicente. […] Enfim, decidiram que fosse eu, e que o Dr. Russell e a Teresa ficassem a rezar invocando a protecção de São José, a quem confiávamos os nossos planos. Foi no dia da sua festa, 19 de Março de 1866. Levava a sua milagrosa imagem apertada contra o coração, (...) Estava o dia ameaçando muita chuva, (...) e parecia-me que a natureza toda estava de acordo comigo, sentia um temporal em mim. (...) Batia-me o coração, animava-me a muita bondade com que sempre Sua Eminência me falava. (....) Sua Eminência disse que, pelo seu lado, estimava muito, mas que admirava que houvesse quem tivesse ânimo de começar alguma coisa, quando tudo estava para acabar deste género em Portugal. Era todo desanimação. Muitas apoquentações e uma fraquíssima saúde lhe tiravam a força para lutar, mas concluiu dizendo-me que aprovava muito, e contassem com ele em tudo que estivesse ao seu alcance. Voltei muito contente. Saiu-me ao encontro a Teresa com os olhos cheios de lágrimas da longa conversa que tinha tido com o seu Divino Esposo. Apenas ouviu a minha narração, brilhou-lhe a fisionomia duma alegria resplandecente, e sem mais perder tempo, pôs-se a escrever para a Irlanda, e ao Dr. Russell, a quem eu mandei palavra por palavra, a minha conversa com o Senhor Patriarca."


Carta de Teresa de Saldanha a Madre Maria Imelda Magee, prioresa do Convento de Drogheda. Irlanda.

"Lisboa, 22 de Abril de 1866. Festa do Patrocínio de São José

Minha querida madre (...) No dia 19 de Março, festa do nosso Patrono São José e no mesmo dia em que a madre me estava a escrever, a minha cunhada, que é minha sincera e fiel amiga, foi ao Patriarca e, assistida por uma graça especial de Deus, relatou o nosso plano e obteve a licença que nós desejávamos (...) O que nos parecia tão difícil e quase impossível, derreteu como gelo, antes do irradiar do Sol, quando Deus o quis. Não consigo expressar os meus sentimentos, vendo como o Patriarca nos concedeu a sua anuência para o nosso empreendimento, como ele o aprovou e garantiu protegê-lo! O meu pobre coração estava tão cheio de gratidão e amor em relação a Deus e só conseguia agradecer-lhe vezes sem fim, Ele que tão facilmente consegue remover os obstáculos. Também considerei que São José tivesse uma grande parte a ver com esta obra, e ele é agora o nosso grande patrono, santo e protector poderoso. O consentimento do Patriarca removeu grandes dificuldades e é necessário que o nosso Mestre Geral seja informado deste solene acontecimento. Até parece que ele adivinhou tudo isto. Na sua última carta, mencionou o seu consentimento para que o noviciado fosse feito em Drogheda, sob algumas condições, seja como for, supunham a impossibilidade de obter a licença, a autorização do Patriarca. Agora estou muito ansiosa de saber qual deve ter sido a surpresa do nosso Mestre Geral, sabendo a facilidade com que esta licença foi obtida. Mas nós não devemos estar surpreendidas com tudo o que tem acontecido, porque isto é obra de Deus e para Ele nada é impossível. Um sentimento de humildade e temor deveria estar nos nossos corações e oh querida madre, como sou indigna de ter uma parte nesta grande obra e o quanto santa eu deveria ser, para responder a tantas graças e favores recebidos de Deus! Este é o desejo que sinto em trabalhar para a salvação das almas no meu país; esta determinação de levar a realização da introdução em Portugal da Ordem Terceira de São Domingos, custe o que custar, este desejo e esta determinação não são especiais graças e favores de Deus? Todos os bons pensamentos vêm d’Ele, que nos ama com um amor intenso, e se nós correspondermos às Suas inspirações, a Sua força nunca irá faltar. Reze, reze ardentemente por mim. Eu espero agora que o Mestre Geral dê a sua autorização formal à nossa grande obra. (...) Tudo o que tem acontecido é extraordinário e como não nos é dado adivinhar qual é a vontade de Deus, agora através de tantas circunstâncias que aconteceram parece que Deus está a trabalhar nisto tudo. A vida religiosa neste país, infelizmente, quase desapareceu; o que resta dos conventos está a morrer e quem sabe se isso não será, talvez, a vontade de Deus que antes do último convento fechar, uma simples, humilde, escondida Congregação poderá surgir em Portugal das ruínas duma vida religiosa decadente? (...) Esta Ordem será escolhida por Deus para fazer grandes serviços em Portugal e espero confiadamente que esse dia venha depressa. Continuemos a rezar ardentemente por luz, pela graça da perseverança e o momento apontado por Deus para a realização do nosso projecto chegará somente quando agradar a Deus e não antes. (...) Que alegria poder satisfazer o ardente anseio do meu coração e dar-me toda a Ele, que é o objecto do meu amor, Jesus o amado das nossas almas. Disseram-me que eu tenho de sacrificar a minha vontade, deixe-me só dizer um resignado Fiat! (...)"


(ilustração de @solangeerl)

São José, nesta Quaresma, 
como VTS e com Teresa de Saldanha, 
protege-nos e ajuda-nos a...

~ ser obedientes à vontade de Deus, atentos à comunidade e diligentes no testemunho;
~ ser testemunho e sinal de Deus e não de nós próprios;
~ aproximarmo-nos dos outros com ternura, assumindo com humildade tudo o que somos e damos;
~ podermos ir superando os nossos obstáculos com criatividade e confiança;
~ refletir e orientar o próximo;
~ acolher o projeto de Deus para nós mesmo perante a incerteza dos dias de hoje. 
(preces dos voluntários presentes no encontro nacional online de Quaresma, 27 fev 2021)

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