Cartas para Teresa de Saldanha - Maria Sabino






Querida Teresa de Saldanha, que bom que é poder escrever-te uma carta. Enquanto que as mensagens que passamos a vida a escrever nos telemóveis são efémeras e instantâneas, uma carta eterniza as nossas palavras e os nossos sentimentos que ficam guardados no papel de quem os recebeu.

Hoje, sou eu, Maria, que te escreve esta carta, onde espero contar-te um bocadinho da minha história e relembrar como é que chegaste até mim.

Foi há 3 anos no verão, que ouvi falar pela primeira vez de ti, da tua história encantadora, da bondade que surgiu através de ti e especialmente daqueles que regem as suas vidas com os teus tão bons ensinamentos.

Tinha 16 anos na altura e sentia-me demasiado confortável na minha realidade, sentia que precisava de um desafio onde pudesse entregar-me. Por coincidência (ou não), encontrei um campo de trabalho missionário, o Dominismissio e para onde acabei por ir.

Embora na altura estivesse um pouco reticente por ir sozinha, foi o melhor que podia ter feito por mim e por tudo o que a experiência significou. Conto sempre esta história com a maior das alegrias porque na realidade as escolhas e os caminhos em que nos vamos desafiando, são os que acabam sempre por trazer maior felicidade às nossas vidas.

A certa altura do Dominismissio, entregaram-me uma pulseira que dizia “com Teresa de Saldanha Fazer o Bem sempre.” Lembro-me de durante meses não a ter tirado, por me fazer tanto sentido e por ser uma espécie de lembrete diário daquele que devia ser o nosso objetivo principal.

Lembro-me de serem feitos textos e um mini teatro onde contámos a tua história e lembro-me de pensar “quem me dera um dia ser assim, convicta das minhas escolhas, projetos e ideias e que estes levem sempre ao bem estar dos outros”.

Sabes Teresa, há tanta coisa que uniste na minha vida e que neste momento fazem parte de mim e da minha história. Tantos rostos que me sorriram só por estar presente, tantas palavras que me tocaram por serem simplesmente sinceras, tantas pessoas com um coração maior do que elas que hoje fazem parte do meu dia a dia e melhoram exponencialmente cada momento.

Há muitas pessoas que não gostam de pensar como é que teria sido se algum momento, frase ou acontecimento não tivessem existido porque na realidade é algo que não dá para alterar, eu percebo. Mas, ao mesmo tempo faz-me tanto sentido agradecer pela Deuscidência que foi o meu primeiro Dominismissio porque facilmente podia não ter acontecido porque há sempre milhões de escolhas e possibilidades em cada momento e situação.

Há uns tempos, numa atividade do Dominismissio, entregaram-me um separador de livros que tinha uma frase tua que até hoje não esqueço por naquela altura me ter feito tanto sentido quando a li. A frase era “Deus olha-me sorrindo para me dar força e eu havia de perder a coragem?”. Nem imaginas o quão bom foi ouvir/ler isto nesse momento. Na verdade, devia ser um pouco obvio que Deus nos olha a sorrir, que Deus nos dá força e que está sempre ali mesmo quando não nos lembramos dele. Mas, a realidade é que tão facilmente nos esquecemos disto, facilmente nos deitamos abaixo e perdemos a coragem. E é aqui que os teus ensinamentos fazem também tanto sentido. Deus olhou-te sorrindo, tal como olha a mim e a todos, e tu nunca perdeste a coragem. A perseverança de lutar, de melhorar e de ser a melhor forma de ti que podias ser em cada momento.

Neste momento faço parte da Pastoral Juvenil Vocacional das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena, a congregação que tu tanto lutaste para formar. É difícil pôr em palavras o orgulho enorme quando penso nisto tudo. Nas pessoas que mais uma vez foram colocadas no meu caminho e nas tuas palavras que ainda ecoam nos corações delas e de tanta gente.

Toda a tua determinação, organização, empenho, luta e amor pelo que acreditavas e querias fazer, são pilares de referência que todos devíamos ter na nossa vida. O saber olhar para o outro, saber amá-lo como é, saber ajudá-lo como precisa e a isto tudo aliar Deus, é só maravilhoso.

Espero um dia, quando olhar para trás na minha vida, sentir que nunca me desviei daquilo em que acredito, do sentido que coloco nas coisas e especialmente da serenidade de ter encontrado em mim e nos outros este tão grande amor de Deus.

Até breve,

Maria Sabino


Évora, 6 de abril de 2021


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